quarta-feira, 27 de agosto de 2008

VIDA DE CÃO


segunda-feira, 25 de agosto de 2008

VIDA DE CÃO


quarta-feira, 14 de maio de 2008

VIDA DE CÃO

domingo, 16 de março de 2008

LIVROS

Editado em Julho de 2007 e, naturalmente, não traduzido para português, Looking at Animals in Human History, de Linda Kalof é um livro que vale a pena ser lido. Sobretudo porque nos dá uma visão panorâmica da história da nossa representação dos animais, desde a pré-história até à pós-modernidade, e a forma como essa representação se foi alterando à medida que decorriam mudanças na condição social. Linda é uma professora de sociologia da Michigan State University com um ponto de vista muito interessante. Aliás, o ano de 2007 foi muito produtivo para Linda uma vez que também publicou Animals Reader. The Essential Classic and Contemporary Writings e A Culural History of Animals (juntamente com Brigitte Resi) em seis volumes. Uma entrevista a Linda Kalof será brevemente publicada neste blogue.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

NOS RASTOS DA SOLIDÃO: ANIMAIS DE COMPANHIA

(Entrevista feita por Ricardo S. Reis dos Santos ao sociólogo português José Machado Pais e publicada no jornal Gazeta Animal, 2006)

Contrariando a norma, começo por lhe perguntar o que não é a solidão?

A sua proposta, chegar a uma ideia da solidão por aquilo que ela não é, tem perfeito cabimento. Leonardo da Vinci também usava esse método para melhor definir as cores que usava em suas telas. Colocava-as na vizinhança das cores contrárias: o branco com o preto, o amarelo com o azul, o verde com o vermelho… É o método dos contrastes. Quando sentimos que a nossa existência tem sentido – para os outros e, sobretudo, para nós mesmos – dificilmente nos achamos em solidão, mesmo quando estamos fisicamente sós. Por isso mesmo penso que a solidão é um terreno de desenlaces sociais.

Intitulou o seu livro de «Nos rastos da solidão». Pressupõe-se que a forma como nos relacionamos com os animais de companhia representa, ao fim e ao cabo, um rasto da solidão. Aonde nos leva e que tipo de solidão nos mostra esse rasto?

Sim, há relacionamentos com animais cuja companhia tem um condão. A de preencher vazios de solidão. Raramente nos questionamos sobre essa magia de vida que os animais nos transmitem e muito menos sobre o significado da solidão que é tocada por essa varinha de condão. Um tal rasto de solidão mostra-nos a desumanização da nossa sociedade, isto é, nem sempre os humanos têm capacidade de gerar afectos, relacionamentos, enlaces. Aí surge um abanar de cauda, um miau, uma interactividade de afectos que nem sempre é possível entre os humanos.

Há socialmente uma certa estigmatização em relação àqueles que têm animais (simbolicamente encorpada na imagem das velhas dos gatos). A que se deve essa estigmatização?

A estigmatização, neste caso, é fruto da incompreensão. Há quem não compreenda as dádivas desinteressadas que são feitas aos animais. Talvez porque a lógica da sociedade em que vivemos seja uma lógica de interesses onde a dádiva não faz sentido sem uma correspondente contrapartida material. Que ganha aquela velha em dar todos os dias de comer aos seus gatos? Uma tal estigmatização é também fruto do desconhecimento. Há quem não compreenda que o fazer bem faz com que as pessoas que o fazem se sintam bem.

No seu livro começa por dizer que «houve um notável aburguesamento das espécies caninas e felinas a partir do momento que passaram a animais de companhia». Quer isto dizer que estes animais também usufruem de um estatuto social?

Sem dúvida! Há também níveis hierárquicos nas espécies caninas e felinas. E obsessões racistas! Qual é a raça do seu cão? Oh, o meu é um puro-sangue, da raça tal! Efectivamente, há cães e gatos aburguesados, excessivamente mimados, obesos, alimentam-se demais, dormem em excesso, não pulam cercas, se saem há rua, coitadinhos, podem ser atropelados, engriparem-se, apanharem pulgas… Depois há os animais de rua, vagabundos, vira-latas, pois têm de buscar alimento, lutar pela sobrevivência. São como os sem-abrigo das nossas cidades. A domesticação dos animais levou-os a uma excessiva sedentariedade. Os nossos maus hábitos (alimentares e físicos) são passados aos animais de estimação. E até a nível de educação, há, por vezes, permissividade exagerada, descontrole, falta de disciplina. Nem sempre sabemos educar devidamente os nossos animais. Exactamente como acontece com os nossos filhos.

A que se deve esta nossa aproximação afectuosa em relação a cães, gatos e outros animais de companhia? E porquê animais e não a pesca, o montanhismo, o álcool ou o benfica?

Há causas várias, não é? O preenchimento de vazios relacionais, como vimos, pode ser uma delas. Há também quem tenha verdadeira paixão pelos animais e, como sabemos, as paixões não se explicam. Mas há também quem reclame a companhia de um animal porque é chique, é moda, etc. É entre estes últimos que há uma maior propensão ao abandono, quando se aproxima o período das férias, ou quando a moda passou. O sentido da nossa identidade passa por uma vinculação a referentes a quem possamos estar afectivamente ligados. Pode ser um cão, um gato, um cavalo, um desporto, um clube desportivo. Por vezes, cruzamos essas vinculações. Então chamo Benfica ao cão, ou coloco o periquito numa gaiola de grades brancas e verdes ou azuis. E claro, o meu carro é preto porque sou da Académica. Em relação à pesca há um hábito que observei na Holanda que me deixou desconcertado. Pessoas têm o passatempo de pescar peixes nos canais mas quando os apanham devolvem-nos à água. Estranha forma de passar o tempo. A sua relação com os peixes é difícil de caracterizar. Altruístico?

Serão então os animais de companhia poderosíssimos parceiros para combater a solidão?
Quando os animais preenchem vazios de solidão aí a relação é completamente diferente. E, na verdade, eles são poderosíssimos parceiros no combate à solidão. Porquê? Talvez porque tenham uma enorme capacidade de escutar. Há animais que parecem interiorizar o sofrimento dos seus donos. O seu olhar, ou melhor, a forma do seu olhar, é como que se fosse um sinal de compreensão, de cumplicidade, de solidariedade. E não é verdade que o olhar de um cão ou de um gato tem tanto para nos dizer? Bom, estou para aqui a falar do ouvir, do olhar… enfim, dos sentidos. Mas, justamente, é através dos sentidos que circulam os sentimentos.

Grande parte do capítulo em que aborda os animais de companhia é dedicado a um estudo que efectuou no cemitério do Jardim Zoológico de Lisboa. Porque são os cemitérios «laboratórios de inesperados achados sociológicos»?

Os sociólogos não têm por hábito frequentar cemitérios; quando os visitam não é na qualidade de sociólogos. Daí o inesperado dos achados. Achados tanto mais valiosos quanto é certo que, afinal, o mundo dos mortos diz-nos muito sobre o mundo dos vivos. Da mesma forma que o relacionamento com os animais nos diz muito sobre o relacionamento que os humanos têm ou não entre si.

E nas suas deambulações pelo cemitério do Zoo de Lisboa, o que achou o sociólogo José Machado Pais?

Achei uma senhora, junto de uma campa, com um lenço enxugando lágrimas do rosto. O seu cão havia sido enterrado há pouco tempo. Depois fui deambulando pelas campas, quase um milhar delas, e fui descobrindo sinais flagrantes do significado que os animais têm para os seus donos. Digo têm e não apenas tinham… pois a morte do animal não apaga da memória as vivências havidas. Por essa razão, em algumas campas li lápides do tipo: “Gatinha: tu não estás só. Parte de mim repousa aqui contigo. Sinto a falta do teu carinho e ternura mas permanecerás sempre no meu coração como a coisa mais bela da minha vida. Felicidade”.

«Saudade eterna de todos que te amaram», «No céu nos encontraremos. Da mamã que vos ama», são alguns dos epitáfios do cemitério que nas suas várias dimensões parecem dedicados a membros da família. Foi o que foram estes animais? Autênticos (ou apenas?) membros da família?

Em muitos casos, autênticos membros da família. De uma família alargada em que o cão ou o gato é mais um. No caso de pessoas abandonadas, solitárias, ou de relações cortadas com a família, o animal de estimação é a família. A família toda. Toda a família que não se teve. Nestes casos a perda do animal é tremendamente sofrida.

O sentimento de perda é então um sinal forte do papel dos animais de companhia como membros da família e, sobretudo, parceiros no combate à solidão?

Sem dúvida. E disso nos dá conta o recenseamento de algumas inscrições tumulares onde o sentimento da saudade pela perda está bem presente. Exemplo: “Papy e Mamy jamais te esquecerão, permanecerás sempre vivo nos nossos corações. Depois de ti ficou o vazio. Eterna saudade”.

E depois da perda não vem novamente a solidão?

Depois da perda pode acontecer que a solidão retorne. Ou talvez não. É que o sentimento de saudade não é equivalente ao de solidão. A lembrança de alguém a quem amámos, de alguém que não nos decepcionou, de alguém que continuamos a amar pelo simples facto de a esse alguém lembrar, é uma realidade que nos enche. E porquê? Porque nos preenche, da mesma forma que os vazios de ausência se enchem da presença que a saudade reclama. Por outro lado, a perda alimenta também a esperança do reencontro. Isso foi das coisas que mais me surpreendeu, na pesquisa que fiz. A possibilidade de uma existência espiritual alargada ao mundo dos animais ditos não racionais. Exemplos: “Querida Jane (Janinha) descansa em paz, voltaremos a estar juntas quando Deus quiser. Muitas saudades. Mãe”. Ou: “Minha gatinha linda, nada mudou... Vives e viverás sempre no meu coração, obrigada pela tua compreensão e carinho. A nossa promessa de um dia passear juntas pelo espaço mantém-se. Até lá uma beijoca da dona”.
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José Machado Pais é doutorado em sociologia. Actualmente é investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, onde também dirige a revista Análise Social, e é professor convidado do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, onde coordena a cadeira de Sociologia do Quotidiano. É autor e co-autor de vários livros sendo de destacar Sociologia da vida quotidiana, Arte de amar da burguesia, A prostituição e a Lisboa boémia, Culturas juvenis, Sousa Martins e suas memórias sociais, Consciência histórica e identidade, Ganchos Tachos e Biscates (Prémio Gulbenkian de Ciência 2003) e, mais recentemente, Nos Rastos da Solidão - Deambulações sociológicas.
(foto retirada daqui)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

REVISTA DE IMPRENSA:
CÃES E GATOS TRATADOS COMO PESSOAS NOS EUA


-Global Notícias, Ano1 N.º 67, 13-12-2007

Comentário: é um fenómeno relativamente recente. Os animais de companhia passaram de um estado de domesticidade para um estado de familiaridade, quase de intimidade, partilhando hoje espaços que há uns tempos atrás eram-lhes totalmente vedados precisamente por serem animais. Nesses tempos, se alguém dissesse que dorme com um cão era alvo de crítica social. Talvez por isso se diga que «65% confessaram que lhes oferecem prendas na quadra natalícia». Sublinho novamente o «confessaram». Como se fosse um "crime" ou um "pecado". Quer dizer. Nesses tempos talvez fosse!? Por outro lado, também é interessante o título da notícias. «Cães e gatos tratados como pessoas», isto é, como se fossem pessoas. Para já, uma pergunta: seria possível os cães e os gatos dormirem na cama com os donos e receberem prendas na quadra natalícia sendo tratados como cães e gatos que são?! Muito provavelmente não. O que pode indicar, à partida, uma antropomorfização destes animais de forma a terem os mesmos privilégios que as pessoas. É claro que pode-se argumentar que as pessoas todas não dormem nas nossas camas. Pois não. Mas também não os animais todos. Aliás, essa distinção é precisamente igual. A atitude é mais ou menos esta. Só o meu cão e o cão da minha namorada é que estão autorizados a dormir na minha cama. Ou então: Lá em casa há dois cães. Um caniche, irritante, histérico, apanhado na auto-estrada. E um labrador preto, lindo, cheiroso. Somente este está autorizado a dormir na minha cama. O outro vai prá cozinha. Há claramente ostracização, racismo, hierarquização, preferências com base em multicritérios, com a consequente atribuição de estatutos sociais. E não é precisamente isto o que se passa entre nós?!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O POSTAL DO ORIENTE (1)

Este postal veio da China, dirigido a duas veterinárias amigas minhas. Os comentários ficam para mais tarde.

«Olá Dras. X e Y,
Ainda se lembram de nós?
Chegámos há pouco mais de um mês
a este lado de cá do mundo!
Chegámos bem e para além de já
termos uma casinha acolhedora de
2 andares onde passamos os dias
a correr escadas acima, escadas a
baixo, a nossa mamã conseguiu
arranjar um emprego logo na se-
mana a seguir a termos cá
chegado! Podemos dizer que somos
umas crianças felizes e que esta
estadia aparenta ser duradora!
Gostávamos também de aproveitar
toda a simpatia, carinho e atenção
com que nos sempre trataram e
enviamos também umas fotos nossas
para que não se esqueçam de nós
da mesma forma que não nos vamos
esquecer das dras.
Muitas lambidelas e festinhas!
Z. e W.»

(os sublinhados são meus)